O Porto na rota dos grandes debates europeus



A cidade do Porto foi escolhida para acolher este ano, entre os dias 27 e 29 de junho, a Universidade de Verão do Partido Popular Europeu (PPE) a que pertencem o PSD e o CDS.

Dias mais tarde, de 3 a 6 de Julho, vai ter lugar, também no Porto, a Universidade de Verão do Partido da Esquerda Europeia, a que pertence o Bloco de Esquerda.

O Porto estará assim, neste verão, na rota dos grandes debates sobre o futuro da Europa.

De um lado estará o partido que tem conduzido os destinos da União nos últimos anos e que trouxe as nossas sociedades ao estado em que estão hoje. Pretendem agora aprofundar esse caminho.

Do outro lado estará o partido das lutas e da resistência contra estas políticas, empenhado em definir as linhas de alternativa para saída da crise e a construção de uma outra Europa ao serviço dos trabalhadores e de todos os cidadãos.

Dez meses depois, em Maio de 2014, ambos irão a votos. A voz do povo que marcha nas ruas vai enfim medir-se nas urnas com as forças do poder ao serviço dos grandes interesses, as vítimas contra os carrascos, o trabalho contra o capital, os direitos contra a austeridade, os serviços públicos para todos contra as privatizações e os favores aos grandes negócios de muito poucos.

Nas próximas semanas, haverá dois Portos que esperam por ti. 
Escolhe o teu lado. 
Escolhe a tua Universidade de Verão.


Podes aceder ao programa aqui.

Para te inscreveres, envia a ficha de inscrição para info@european-left.org

Gente da mesma rua





Publicado em: O Gaiense

Por vezes, ligamos a televisão e não conseguimos de imediato perceber de que país estão a falar. Vemos gente, muita gente, na rua a protestar: o mesmo aspecto, os mesmos cartazes, a mesma polícia a dispersá-los com os mesmos equipamentos e as mesmas técnicas. Esta semana poderia ser em Sófia ou noutras cidades búlgaras, contra a nomeação do novo responsável pela segurança nacional. Ou em São Paulo, no Rio ou alhures no Brasil, por causa do aumento de vinte centavos nos transportes. Ou em Atenas, por causa do fecho da televisão. Ou em Istambul, contra a destruição de um parque para construir um centro comercial.

Como poderia ter sido em Lisboa ou no Porto, por causa de mais uma medida da troika e do governo. Ou em Madrid, contra a austeridade. Ou em Londres, contra o G8. Ou em Nova Iorque, onde se ocupou Wall Street. Ou no mundo árabe, onde a primavera derrubou vários governos.

Em cada caso, o motivo concreto pode ser específico e bem determinado, mas isso é apenas a faísca que incendeia a pradaria. Porque há uma razão comum, muito profunda, que alimenta este reaparecimento massivo dos povos nas ruas das suas cidades, parecendo-se cada vez mais uns com os outros. É uma idêntica e sofrida razão de queixa contra o mesmo sistema iníquo que, apesar das nuances nacionais, tem servido em todo o lado para enriquecer a mesma classe privilegiada à custa da exploração das mesmas vítimas e usando a mesma corrupção.

Por isso, no fundo, somos todos gente da mesma rua. E a televisão está, todos os dias, a ajudar-nos a sentir assim.


O poder da televisão





Publicado em: O Gaiense, 15 de Junho de 2013


Com a troika presente no país para mais uma das suas famosas avaliações, com as macabras exigências que sempre as acompanham, o governo grego decidiu numa manhã que à meia-noite desse mesmo dia acabavam as emissões das televisões e rádios públicas do país. À meia-noite cortou o sinal e mandou para o desemprego 2655 trabalhadores. Para cortar custos, disse o ministro.



Os trabalhadores ocuparam a televisão e continuaram a fazer o seu trabalho, o povo saiu para a rua e envolveu o edifício da ERT (a RTP lá do sítio) com uma massa protectora contra uma possível invasão. Canais privados de rádio e tv asseguram a retransmissão da ERT. Apesar de estes não custarem um cêntimo ao Estado, foram encerrados pela sua ousadia. Numa atitude de grande impacto internacional, a União Europeia de Radiodifusão, a que pertence a RTP, disse que o governo grego estava a exercer a pior forma de censura e forneceu os meios técnicos para a retransmissão internacional da programação que os trabalhadores da ERT continuam a fazer.

É bem possível que a direita grega tenha cometido um fatal erro de avaliação e, com esta atitude, tenha desencadeado o processo de encerramento do próprio governo.



Pode ser que sirva também de lição para Portugal. Lembram-se do que Passos Coelho e Miguel Relvas tentaram fazer com a RTP? Em Maio do ano passado, Passos anunciou a venda a privados até ao fim de 2012 e confirmou Relvas como líder do processo; pouco depois, adiada a privatização, este veio anunciar "um ambicioso processo de reestruturação muito exigente e doloroso". A seguir, foi posto fora do governo e nós ainda temos a RTP. Que, porém, nunca estará segura enquanto a troika andar por cá e tivermos um governo de fanáticos, semelhante ao grego, para executar as suas ordens.



ERT resiste


Emissão da televisão grega
após o fecho decretado pela troika e pelo governo de coligação

http://www.zougla.gr/Controls/livecamera2/article/flash-camera-4


Um respeitável seminário sobre a fuga aos impostos (em Bruxelas é possível)

Hoje no Parlamento Europeu: a fuga ao fisco como instrumento de combate à crise?
Que me dizem destes "Liberais e Democratas"?


Transportes gratuitos?



Publicado em: O Gaiense, 8 de Junho de 2013


E se não precisássemos de comprar bilhete nem passe para andar nos transportes públicos?

A ideia pode parecer bizarra ou utópica, mas a experiência de transporte público gratuito já existe em algumas cidades da Europa há alguns anos. Existe em cidades nórdicas, entrou este ano em vigor na capital e outras duas cidades da Estónia, existe na Bélgica, na Polónia, na Eslovénia, na Rússia e, mais perto de nós, na Espanha e na França.

Será que isto poderia alterar o uso que fazemos do transporte colectivo? Que impacto teria na qualidade de vida das populações? E na fluidez do tráfego urbano, na qualidade do ar, na forma como vivemos a cidade? Será economicamente sustentável para as autarquias que o promovem ou para o Estado? Como se financia? A gratuitidade deve ser geral ou só para alguns utilizadores? Em toda a rede, ou só em algumas linhas ou alguns modos de transporte?

A boa notícia é que vamos poder colocar directamente estas e outras perguntas a quem as sabe responder. Magali Giovannangeli, a presidente do agrupamento de municípios do Pays d’Aubagne e de l’Etoile, no Sul de França, que estabeleceu a gratuitidade dos transportes em 2009, vem a Portugal explicar como tem corrido esta experiência numa área com 100 mil habitantes. Estará no Porto, na Universidade de Verão da Esquerda Europeia, que vai ter lugar no Estádio do Dragão de 3 a 6 de Julho, para responder a todas as nossas (e vossas) perguntas.

A entrada é livre. 
E gratuita, como os transportes em Aubagne.








Escrevo-te em cima do capô de um carro da polícia derrubado. / I am writing to you on a motor hood of a knocked-over police car.




Carta recebida agora mesmo de um amigo da Confederação Sindical Progressista em Istambul:



LIKE A TREE, LIKE A FOREST IN TAKSIM SQUARE

My trade union is part of a platform together with professional associations and neighborhood organizations. This platform protests the construction work in Taksim that will demolish the park there. Therefore, I was following the related campaigns on Taksim Square.

When I heard that bulldozers came and the trees in the park were cut, I ran to the park. Instead of shutting down the illegal construction – the court revoked the construction project-  the police, used tear gas against people who want to save the trees.

First night, we took my tents and sleeping bags and went to the park. We sang and chatted till dawn. In the evening, thousands of people were gathered. The concert was continuing on the stage. We were discussing urban regeneration, environmental destruction, human rights and workers rights. The highlight of all these discussions was that they are all the result of government policies. An ever-changing and growing committee was established.

When I woke up in the morning the camp was drowned into tear gas and everyone was running around. The police set the tents on fire. They uprooted the saplings that were planted a day before. The bulldozers were working under the protection of riot police.  

We did not want to get revenge from police. Someone was reading a novel to the police with the help of a megaphone that was saved from the fire. Another one was asking “why did you set my guitar on fire?” but by singing.

When we succeeded in entering the park we set up bigger tents. In the evening there were tens of thousands people in the Square. Renowned musicians cancelled their concerts and came to the park.  
People from various views came together… people and workers on strike from regions that were harmed with the corporations’ and government’s thirst for profit… Football fans, radical left parties, student organizations, feminists, anarchists, vegans…

The following night we were better prepared. The garbage was taken periodically. Volunteer security staff was visiting patrol. Women were able to walk comfortably in the camp area. Government’s new alcohol regulations converted drinking to a political action. People were chanting slogans, on the other hand they were singing songs, and drinking.

Towards the morning hundreds of goggles, gas masks, lemon, vinegar, home-made anti-tear gas solutions prepared by stomach pills were distributed. There were thousands of people in the park when the police attacked at 5 o’clock in the morning. There were no warnings and suddenly we were unable to see anything. We evacuated the park inline with the plan we made earlier.

Clashes in the street continued till morning. I managed to sneak in the park quietly getting advantage of the fatigue of the police. I watched the Bosphorus sipping my tea in the shadow of a tree. I hope it won’t be the last time I see this view.

The protestors tried to enter the park by gathering in back streets again and again. The police prevented them by using excessive use of force. The whole city turned into a rally arena. Some demonstrators walked the bridge that connects Asia and Europe.

So, who are these people that gathered in the square? It won’t be true to say that these people have common views and common aims. The only common thing was they were angry to the government… The police violence against the youth who wanted to protect the trees triggered people and all the people who are against the government were out on the streets.

Thousands of women and men who have not participated in a political demonstration before clashed with the police till late at night. The entered a new demonstration without event having breakfast. With their home-made gas masks they revolted against the police sometimes by singing, sometimes by swearing. There were demonstrators from wealthy families, but also unemployed people… From Muslim associations to socialist parties many different groups were shoulder to shoulder…

People, who soaked refuge in a barricade, were tweeting, people uploading photos to Instagram with a police helmet. Pupils were drawing nasty graffitis addressing to the Prime Minister. People drinking beer for a little rest… I met a couple who were making plans for their wedding in the telephone booth where I sheltered during a rubber bullet rain.

In the past five days, growing number of demonstrators are having fun and demonstrating at the same time without sleeping or resting. The most chanted slogan is “Resign Government!” Police violence is not driving them away. Fear is defeated now. We learned to raise our voice when we are angry. Some people are fighting, some are dancing. Some are attacking around in insobriety; some are collecting the garbage and treating the street animals.

I do not know what is going to happen tomorrow! But today is a new day and we are all new people.
What am I doing now? While ten thousand of demonstrators are asking PM to resign with several different reasons, I am writing to you on a motor hood of a knocked-over police car.