Um sorriso no autocarro




Publicado em: O Gaiense, 4 de Setembro de 2010
Esta semana participei num debate, numa cidade do Sul de França, numa daquelas Universidades de Verão com que agora se fazem as rentrées políticas. Foi em Aubagne, uma simpática cidade provençal na zona da Côte d’Azur, onde a vida é bem mais pacata do que na vizinha Marselha. Talvez por isso os doze municípios do “Pays d’Aubagne et de l’Étoile” tenham rejeitado por uns esmagadores 96,23%, num referendo local realizado em Junho, a sua integração na unidade territorial da “Grande Marselha”. Não votaram contra Marselha — explica o presidente da Câmara —, mas pelo direito a serem autónomos e a cooperarem livremente com Marselha nos projectos que lhes interessarem, mantendo no entanto a sua inovadora democracia de proximidade, que tão bons resultados tem dado. Não é fácil apreender num curto espaço de tempo o espírito da vida de uma cidade, mas o aspecto cuidado das ruas e a programação cultural intensa, acessível e de qualidade, são pequenos sinais que denotam uma saudável vida cívica.



Uma das medidas mais significativas do poder local foi tomada há pouco mais de um ano: os transportes públicos passaram a ser gratuitos. Muita coisa mudou então. O número de utilizadores dos transportes colectivos aumentou 72%, com a consequente melhoria do trânsito e do ambiente. Um condutor de autocarro em que viajei contava-me que o que mais o impressionou foi a profunda alteração verificada na disposição dos passageiros, que agora o cumprimentam sempre com um sorriso quando entram, como se estivessem a agradecer-lhe um favor, embora ele continue apenas a fazer o seu trabalho. E dentro do autocarro, dizia ele, as pessoas conversam todas animadamente como não acontecia antes, vão contentes e são mais gentis umas com as outras. É claro que estarão satisfeitas porque a gatuitidade representa uma real melhoria na sua situação económica, o que é especialmente importante em tempos de crise, mas é muito mais do que isso. É a sensação de pertença a uma comunidade cujos poderes públicos eleitos se mostram amigos e atentos, identificando-se com os problemas daqueles que os elegeram.
Por vezes, há gestos simples que podem ter um alcance muito profundo.




Esta é uma pequena cidade deliciosa, em cuja feira se pode comprar chás e condimentos ao quilo ou sabonetes artesanais.





Aubagne é também conhecida pelos seus artesãos que trabalham o barro, nomeadamente pelos que fazem fantásticos bonecos (santons) e pela bienal ARGILLA.









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