Sucata de identidades



Publicado em: O Gaiense, 24 de Abril de 2010
O uso de aparelhos ou artefactos onde registamos dados, sejam eles computadores, CD, DVD, telemóveis ou outros, tem registado uma expansão muito significativa. Se combinarmos esta expansão do uso com a progressiva redução do tempo de vida útil desses objectos, obtemos uma medida do crescimento do volume de lixo e sucata electrónica produzida pelos nossos novos hábitos tecnológicos.
Para além dos problemas ambientais no tratamento desse lixo, há um outro problema que começa a preocupar seriamente as autoridades e os consumidores europeus: muitos destes objectos são, mesmo no lixo, portadores de inúmera informação sobre os seus anteriores proprietários e sobre terceiros com que se relacionaram. E acontece que essa informação pode ser a real motivação para um eventual comprador ou recolector da sucata.
Apesar do nosso crescente cuidado ambiental com a deposição de computadores, discos ou telemóveis velhos, não temos muitas vezes a mesma preocupação com o apagamento completo dos dados neles armazenados. Ou não temos sequer capacidade técnica para o fazer, seja porque estão avariados, seja porque não é um simples comando de "apagar" que pode resolver eficazmente o problema.
Os dados remanescentes nas memórias podem vir a ser utilizados para actividades de fraude directa ou mesmo de roubo de identidade para iniciar processos fraudulentos mais complexos. É como se houvesse, no ecoponto, um contentor especializado só para documentos de identificação e cartões bancários caducados, extractos de operações e contas bancárias já conferidos e outros documentos sobre a nossa vida pessoal. Se algum sucateiro ou profissional de reciclagem quisesse comprar esse lixo a peso, pelo valor do plástico ou do papel, seria seguro vendê-lo? Acontece que a sucata informática possui informações igualmente preciosas e recuperáveis. A protecção desses dados do "lixo" tem de ser uma preocupação maior naquele ciclo de vida do material informático e de comunicação que começa após a rejeição pelo utilizador. Em primeiro lugar, por parte do próprio utilizador, o primeiro e principal interessado em que os seus dados pessoais ou empresariais não vão parar a mãos menos próprias.

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