A atribulada nomeação da Comissão Europeia
















Publicado em: O Gaiense, 23 de Janeiro de 2010


Barroso não teve mais sorte na constituição da sua segunda Comissão do que tinha tido na primeira. Muitos se lembrarão ainda de como os deputados, há cinco anos, se indignaram com as afirmações do comissário proposto por Berlusconi, o ministro Rocco Buttiglione, um ultra-conservador professor da Pontifícia Academia das Ciências Sociais. O nome acabaria por ser retirado. Agora, no processo de constituição da Comissão Barroso II, foi a candidata búlgara Rumiana Jeleva, também ministra de um governo conservador, que foi alvo da mais viva controvérsia, e não só pelo que respeita à sua capacidade – ou falta dela – para ser "Comissária para a cooperação internacional, a ajuda humanitária e a resposta às crises", um cargo cuja importância foi subitamente enfatizada pelo terramoto no Haiti e a fraca resposta da UE. O que gerou mais vivo debate foi a vida empresarial da candidata, que acabou por conseguir apenas o apoio do partido europeu do qual era vice-presidente, o PPE (a que pertencem o PSD e o CDS).

Um eurodeputado socialista, também da Bulgária, e que exerceu num governo anterior o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros que agora Jeleva exercia, denunciou a continuação da actividade de algumas empresas estabelecidas pelos Serviços Secretos do anterior regime em paraísos fiscais, como o Liechtenstein, como uma forma de desvio das riquezas do país que se manteve durante a transição. É a ligação de Jeleva a uma destas empresas, a ETKO Schneiders, bem como à Global Consult, uma consultora para os processos de privatizações, que levantaram as maiores dúvidas entre alguns deputados. A senhora acabou por resignar à candidatura e também por se demitir do governo da Bulgária.

A votação da Comissão foi adiada para Fevereiro, já que vai ser preciso reiniciar as audições com a nova candidata. Barroso espera e desespera. Primeiro, foi a rejeição do Tratado pelos irlandeses que fez deslizar o calendário, agora são as polémicas sobre a declaração de interesses da candidata. Entretanto, os antigos Comissários vão, mais ou menos, vegetando nos seus lugares.

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